Ok. A gente sabe que a tecnologia veio prá ficar, que faz parte do
mundo das crianças e que tem muita coisa boa a oferecer (blogar por exemplo...eh,eh,eh).
Mas que dá uma aflição danada toda vez que a brincadeira gira excessivamente em
torno de telas...ah isso dá. Afinal, a gente não quer transformar o Apple num verdadeiro Pineapple..
Existe uma distância enorme entre presentear com um smartphone criaturas
que nem sabem ler e achar que essa brincadeira é só de adulto. Perdida no meio
desse caminho, fico me perguntando como tirar proveito desses recursos e impor
limites, sem voltar ao tempo das cavernas. Esse assunto veio à tona em algumas
entrevistas que fiz ultimamente.
Então, vamos ao que dizem os especialistas. Prá começo de
conversa, a Academia Americana de Pediatria diretamente recomenda não oferecer
os badulaques digitais aos menores de dois anos de idade. Simples assim. Quanto
mais seu bebê usar todos os sentidos para conhecer o ambiente que o cerca, mais
rica será sua experiência. Ponto. Desnecessário dizer que isso vai fazer dele
alguém mais criativo e inteligente.
Depois, a questão passa a ser, claro, de dosagem. “Não se trata de
proibir, mas também não é o caso de liberar de forma irrestrita, como se a
criança soubesse os limites”, diz o psicólogo Lino Macedo, da USP. Bingo. Isso
porque o amadurecimento do cérebro que permite o controle dos impulsos só chega
lá pelos 18 anos de idade. Até lá, reina a impulsividade. Ou seja: cabe aos
pais exercer o famoso controle parental para saber se os filhos estão jogando
jogos adequados à idade e estabelecer limites de tempo. Deixados à própria sorte, eles simplesmente não vão saber se
desligar do aparelho. “Você não deixa
uma criança sozinha com um pote de sorvete, certo?”, compara o psicólogo
Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
Agora, os riscos do excesso: em primeiro lugar, abduzida pelo
mundo digital, a criança deixa de interagir “ao vivo e a cores” com as pessoas.
E isso a priva de um aprendizado essencial: saber ler o comportamento dos
outros – que é a base da empatia. Em segundo, esses jogos acionam um padrão cerebral
que, repetido muitas e muitas vezes, faz a pessoa lidar com o mundo de um jeito
mais dedutivo e menos analítico – ou seja, de certa forma mais superficial.
Terceiro: o prazer encontrado nos jogos libera uma descarga de substâncias
químicas no cérebro que gera uma sensação de prazer. Cada vez que a pessoa quer
evitar algo ruim, corre para essa saída, digamos, mais atraente. É um jeito pobre
de lidar com seus humores e frustrações – que desemboca em ...mais joguinhos.
É claro que a cultura digital veio prá ficar. Mas assim como a
escrita não acabou de todo com a tradição oral, nem a TV aniquilou o rádio, os
computadores não vão substituir a bicicleta, a bola e tantos outros jogos e
brinquedos que ajudam a criança a se conhecer e a aprimorar sua relação com o
mundo e com os outros. Cabe a nós, pais, estabelecer a dosagem de cada
brincadeira para que os pequenos tenham uma vivência mais rica. E absorvam muito mais do que estratégias para pontuar no Candy Crush.
É isso!
Gabi
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